LUIZ GAMA: O MAIOR ADVOGADO DE ESCRAVOS DO BRASIL

by Grão-Mestre Adjunto

LUIZ GAMA: O MAIOR ADVOGADO DE ESCRAVOS DO BRASIL

Ao refletirmos sobre a história de nossa pátria, nos deparamos, não raramente, com os feitos de grandes homens e que foram, em sua maioriam Maçons. A memória desses valorosos homens, a quem com orgulho podemos chamar de Irmãos, destacamos para que sejam sempre por nós lembrados e, principalmente, seguidos, tendo em vista o exemplo que foram para a nossa sociedade como um todo.

Dessa forma, destacamos com grande satisfação, a vida de Luiz Gama. A vida e história desse grande brasileiro pode servir de inspiração a todos que têm amor pelas causas justas.

Lembramos que, Luiz Gama nascido livre, foi vendido como escravo e tornou-se livre, novamente, por seus próprios méritos. Pela sua atuação e luta em prol dos escravos, é considerado um dos três principais abolicionistas e o maior advogado de escravos do Brasil.

Tendo em vista a dedicação e seu brilhantismo na Advocacia, foi realizado nos dias 03 e 04 de Novembro de 2015, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, um evento no qual foi comemorada a iniciativa do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil de inscrever, “in memorian”, Luiz Gama em seu Quadro de Advogados. Essa iniciativa, com mais de 130 anos após sua morte, repara e faz justiça a um dos homens mais brilhantes de sua época.

Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu em Salvador, na rua do Bângala, Freguesia de Sant’Ana, no dia 21 de Junho de 1830, tendo falecido em 24 de Agosto de 1882, na cidade de São Paulo, onde era domiciliado. Filho de Luiza Mahin, negra livre, da Costa da Mina, da nação Nagô e heroína na Revolta dos Malês; e de um rico fidalgo, pertencente a uma das principais famílias de origem portuguesa da Bahia.

Após aportar no Rio de Janeiro, em Dezembro de 1840, Luiz Gama foi vendido, juntamente com mais de 100 escravos, ao alferes, fazendeiro e negociante de escravos Antônio Pereira Cardoso, homem rico e poderoso, estabelecido em Lorena, interior de São Paulo.

Vale lembrar que, havia um certo temor em comprar escravos oriundos da Bahia devido às insurreições ocorridas naquela Província, da qual era procedente o menino Luiz Gama. Isso, de certa forma, o favoreceu, posto que, sem comprador, permaneceu na casa dos Cardosos. Lá aprendeu e executou serviços domésticos, como por exemplo, copeiro, lavar, engomar, costurar, além de aprender o ofício de sapateiro. Qualificações importantes para um escravo.

Todavia, o mais importante nessa caminhada foi seu aprendizado nas primeiras letras, isso graças a boa vontade de um hóspede daquela casa que, nos anos seguintes iria se tornar um ilustre brasileiro: o insígne Antônio Rodrigues Prado Junior (hoje, nome de um famoso Colégio do Rio de Janeiro), vindo de Campinas para cursar Humanidades na cidade de São Paulo.

Lembramos que, Luiz Gama chegou a ser escravizado, após ser vendido clandestinamente, aos 10 anos de idade, por seu próprio pai para cobrir dívidas de jogo. Porém, após chegar a cidade de São Paulo, tendo trabalhado como escravo em várias atividades, como já mencionado, Luiz Gama conseguiu sua liberdade aos 18 anos, vindo a se tornar um importante jornalista, poeta e militante político de posições republicanas e abolicionistas.

Em 1848, já com 18 anos, Luiz Gama após conseguir provas de sua condição de homem livre, senta praça na Polícia Militar, chegando a cabo de esquadra da força pública de São Paulo, onde permaneceu por cerca de seis anos.

Luiz Gama era extremamente inteligente, observador, autodidata estudioso e dedicado. Mais tarde, dada as suas habilidades, tornou-se copista de um escrivão e amanuense, ou seja, funcionário que tinha como tarefa copiar ou registrar documentos, ofício no qual veio a ser nomeado posteriormente. Ali permanece até 1868, quando foi exonerado “a bem do serviço público”, cuja acusação era a sua atuação antiescravista e antimonarquista, ocasião em que já era filiado ao Partido Liberal, demonstrando sua grande sensibilidade política, defendendo a necessidade de mudanças políticas e sociais para o nosso país.

Apesar dos acontecimentos e adversidades, mais uma vez a sorte sorriu para Luiz Gama. Fora trabalhar no Gabinete do Conselheiro Furtado de Mendonça, o qual exercia o magistério na Faculdade de Direito de São Paulo, facilitando assim o seu contato com a vasta biblioteca do Conselheiro, de onde, por certo, Luiz Gama adquiriu sua imensa cultura jurídica, que o projetou como um dos mais brilhantes advogados de sua época, sendo imbatível em suas teses e defesas jurídicas.

Devido ao racismo muito forte em sua época, embora tenha tentado se formar em Direito pela Faculdade de Direto do Largo do São Francisco, infelizmente não conseguiu concluir seu intento, mesmo sendo formalmente livre. Contudo, conseguiu uma autorização para atuar nos tribunais, como advogado em defesa dos escravos que lutavam por liberdade, tornando-se, com isso, advogado provisionado, ou seja, mesmo sem possuir diploma de Bacharel em Direito, obteve autorização especial para advogar, após prestar exame na Ordem dos Advogados do Brasil.

Quanto sua vida maçônica, destacamos que, em 1º de Agosto de 1870, Luiz Gama foi iniciado na Ordem Maçônica, sendo também um dos fundadores da Loja América, cujos membros atuavam contra a escravidão.

Na Maçonaria, Luiz Gama ocupou vários cargos, dentre os quais o de 2º Vigilante da Loja América, no ano de 1872; no ano seguinte, passou a 1º Vigilante; e, em 1874 alcançou o posto mais alto de uma Loja Maçônica, tornando-se o Venerável Mestre dessa Loja Maçônica.

Advogado provisionado por 35 anos, Luiz Gama dedicou-se à libertação de escravos, tendo com a ajuda de sua Loja América e de amigos, libertou cerca de mil escravos, feito este que impressiona a todos nós até hoje, enchendo de orgulho a todos os Maçons.

Além de um dos principais articuladores da abolição da escravatura, juntamente com José do Patrocínio e Joaquim Nabuco, Luiz Gama possuía diversas qualificações, como já citamos anteriormente, as quais podemos somar, dentre outras, sua atuação com jornalista, articulista, poeta e escritor, sendo considerado o fundador da imprensa humorística brasileira.

 

Luiz Gama chegou a privar da amizade de grandes vultos da nossa história, como Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Lucio e Salvador de Mendonça, Machado de Assis, José de Alencar, Antônio Rodrigues do Prado Junior, dentre outros.

Apesar de escrever muito, Luiz Gama só deixou um livro publicado em vida, cuja primeira edição foi lançada em 1859 e a segunda, em 1861, corrigida e ampliada, que ganhou um prefácio do próprio escritor, bem como 13 poemas de José Bonifácio de Andrade e Silva.

O renomado escritor Silvio Romero o incluiu em grande obra: História da Literatura Brasileira, e Manuel Bandeira, em sua Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Romântica.

Concluindo, como todos nós sabemos, o Brasil é um país miscigenado e, por isso mesmo, devemos sempre rememorar a formação da identidade brasileira, pois, somos o que somos não somente em razão de nossa cor, mas, pelo legado que essa mistura de cores nos deixou que é a nossa riqueza cultural e histórica.

Luiz Gama deixou seu nome registrado na História Brasileira como um dos personagens mais importantes na luta pela libertação dos escravos, sendo militante ativo desta causa. Mesmo com todas as dificuldades, com toda a força do preconceito existente em sua época, conseguiu resultados memoráveis. Sua garra e determinação nos inspiram e nos motivam a jamais desistirmos de lutar pelo que for verdadeiramente justo.

Luiz Gama trilhou seu caminho e não se deixou abater pelas dificuldades, buscando incessantemente aplicar-se nos estudos e na defesa dos injustiçados, assim, honrando seu povo, seus amigos e a sublime Maçonaria, tornando-se verdadeiro exemplo a ser seguido por todos nós.

Dessa forma, finalizamos lembrando que, os Maçons de hoje têm ao seu alcance, mais do que teve Luiz Gama, todos os instrumentos necessários a sua própria evolução, ou seja, necessários a se tornarem um homem melhor, ajudando também a construir uma sociedade melhor.

Portanto, cabe a cada um de nós Maçons, trabalhar para a construção de uma sociedade e, por consequência, um mundo verdadeiramente mais justo, livre e fraterno.

AILDO VIRGINIO CAROLINO
Grão-Mestre Adjunto

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